Interview de Christian Harbulot sur Guruonline


http://semanal.expresso.clix.pt/2caderno/economia/artigo.asp?edition=1722&articleid=ES196865







MIGUEL SEIXAS/WHO



O CAMPO de acção de dominação geoeconómica deslocou-se dos velhos métodos da «intelligence» económica, com a espionagem industrial e a recolha de informações secretas à mistura, para a «guerra cognitiva». Esta guerra de tipo novo junta uma série de ingredientes e personagens. Mistura a gestão do conhecimento com a arte dos «spindoctors» - os manipuladores de notícias e da imagem pública, artistas da nova contra-informação -, com as subtilezas dos responsáveis pela diplomacia económica aberta ou informal e com «a parte imersa do icebergue, o mundo opaco da finança» , diz Christian Harbulot, 52 anos, o «pai» do conceito.

O factor «geo»






Christian Harbulot criou em Paris uma Escola de Guerra Económica para os empresários



A guerra cognitiva é uma espécie de «mão invisível» das potências e dos lóbis mais fortes. É «o estádio supremo da inteligência económica, a expressão mais moderna da guerra prosseguida por outros meios, uma forma de guerra imaterial» , refere ao EXPRESSO o francês Harbulot, licenciado em História, considerado o principal especialista europeu na matéria. Publicou recentemente A Mão Invisível das Potências. Os Europeus face à Guerra Económica e prepara-se para lançar em Janeiro uma obra colectiva sugestivamente intitulada Os Caminhos da Potência .

Esta mudança acompanhou outras mutações estruturais. O teatro de operações é outro - agora são a comunicação de influência, as ideias, os símbolos e o «lobbying» que fazem primeiro vítimas e vassalos. «Diferentemente das operações de propaganda ideológica que dominaram os grandes conflitos do século XX, agora a principal arma é o conhecimento. Trata-se de uma abordagem indirecta baseada na influência cognitiva» , diz Harbulot.

A nível das potências, o próprio campo de acção tende a mover-se da guerra - no sentido da violência como continuação da política de potência ou de posicionamento - para a geoeconomia, por efeito da «irrupção da China e em breve da Índia, uma emergência que está a modificar tanto a geografia das trocas internacionais como as próprias relações de força mundiais» .

Harbulot não considera que este tema seja exclusivo dos militares e de alguns políticos, apesar de o seu livro ter colocado ao rubro a discussão na elite francesa castrense e dos estudos estratégicos. «A variável ?geo' tem de entrar na função da gestão, tem de sensibilizar a população mais estratégica, os meios patronais, que continuam fechados numa visão muito ideológica e doméstica das relações de força económico-sociais ou ingenuamente agarrados ao perímetro ocidental de frases feitas, sem antecipar as novas formas de relações de força geoeconómicas» , sublinha o nosso interlocutor. Harbulot não vai ao ponto de sugerir a criação de um CGO («chief-geoconomic officer», responsável pela geoestratégia) no organograma das empresas, mas fundou em Paris, com um general, a Escola de Guerra Económica, que funciona desde 1997 dirigida ao público empresarial.

O livro destina-se, também, a agitar «os políticos de curto prazo» para a necessidade de uma estratégia de potência dos seus países, sobretudo quando são grandes ou médios. «A construção da Europa é ainda muito lenta e carregada de incerteza para tornar caduca uma reflexão geoestratégica sobre o papel de potência de uma nação como a França» , confessa Christian Harbulot. Aos pequenos países, a «geo» é fundamental para «preservar a margem de manobra» , aconselha.

Nos últimos dois anos participou no grupo de trabalho sobre os referenciais da inteligência económica no Secretariado Geral da Defesa Nacional francesa e é director da empresa de consultoria especializada em comunicação de influência Spin Partners.

Jorge Nascimento Rodrigues




O QUE DIZ «A MÃO INVISÍVEL DAS POTÊNCIAS»


 
 



 


As grandes empresas europeias habituaram-se a um mercado mundial dominado pelo Ocidente Esse contexto mudou com a emergência da China e da Índia.


Falta sensibilizar a população «mais estratégica», os empresários, muito agarrados a uma visão ideológica das relações de força económicas.


Estado-estratego não é uma tolice, quer se trate de diplomacia económica ou informal.